Carta 012 - O céu que te cobre não cobra a luz da manhã
Querido Joaquim,
Hoje é o dia do seu batizado. Dia em que iniciará sua vida de fé, sua trajetória junto aos ensinamentos bíblicos e, especialmente, sua vida cristã. Ao seu lado, estarão madrinhas e padrinhos, familiares, amigos queridos e a comunidade da Igreja Nossa Senhora das Graças, paróquia situada no bairro de origem de seu pai.
Dividirei essa carta em duas: com a primeira falando sobre os preparativos para esse grande dia e a segunda, com o que de mais legal aconteceu tanto na celebração quanto no almoço oferecido pelos seus pais. A ideia é registrar os primeiros encontros, os principais acontecimentos, como você se comportou e como se comportaram aqueles que te conheceram.
Todas essas iniciações, Joaquim, não o farão uma pessoa melhor, assim, automaticamente. O caminho da fé é muito bonito, mas requer uma dose diária de coragem, de persistência, de dedicação. Você será introduzido a esse mundo e levará consigo outras pessoas que também precisam dessa renovação e juventude religiosa. Esse tio que vos fala, agora padrinho, se inclui nessa!
Ter fé, meu afilhado, não é só ir à igreja e depois esquecer-se dos bons preceitos, das boas atitudes, como bem diz uma canção que seu avô Toninho gosta tanto. Ter fé é apostar na bondade dos gestos, na orientação dos desorientados, no cuidado para com os mais velhos, na responsabilidade das ações, entre tantas outras coisas que a vida pede de nós.
Erraremos muito, mas muito mesmo! No entanto, quando estamos certos de que o caminho do bem é a melhor trilha para uma vida plena e íntegra, todos esses equívocos se transformam em experiências de aprendizagem. Um longo caminho o espera! E espera a nós também, padrinhos e madrinhas, avôs e avós.
Ter uma religião significa, antes de mais nada, uma escolha. Num primeiro momento, seus pais escolhem; depois, você escolhe se permanece nela, se a explora com mais atenção, se a contempla numa dimensão mais filosófica ou prática.
Talvez você queira ser um teólogo e estudar as escrituras sagradas e a história das religiões. Talvez você queira ser um padre e atuar ativamente na comunidade de sua preferência. Talvez você queira ser apenas um coroinha quando mais velho e seguir no auxílio das celebrações semanas como ministro. Talvez você não queira nem uma coisa, nem outra. Talvez você queira apenas ser um homem de fé e frequentar a igreja sempre que possível.
(...)
Seja qual for a sua decisão, tenha em mente sempre que o propósito é a virtude necessária dos benevolentes. Não importa como e o quanto você exerça sua fé, importa aquilo que nela reside enquanto cláusula pétrea: fazer o bem e fazer-se bem.
Outras crianças, outras famílias - em outras cidades, em outros países - escolhem caminhos diferentes, sabia? O batismo católico não é uma condição exclusiva das pessoas. Há muitas outras culturas religiosas igualmente importantes e ricas que você vai adorar conhecer.
Conhecimento, aliás, é o que tirará de você o preconceito, a antipatia, a repulsa. Saber que fazemos escolhas - e que nem todo mundo faz a mesma escolha que a gente - talvez seja um segredo para àqueles que, de forma intencional, pretendem, de fato, viver a vida como ela tem de ser.
Desejo que você, Joaquim, siga o caminho do bem. Siga nos preceitos ensinados por seu pai, sua mãe, seus avós, madrinhas e padrinhos. Que escolha o que a religião tem de melhor. Que ajude os mais necessitados, da forma como puder. Que viva com intensidade a transformação da generosidade. Que conheça, sobretudo, o amor em sua forma mais pura — aquele que não cobra, não mede e não impõe condições. O amor que se multiplica quando é partilhado.
21 set. 25
