Carta 002 - Que nunca falte a flauta

Imagem gerada por Inteligência Artificial
Meu querido Joaquim,
Hoje venho te contar sobre a flauta, instrumento que seu tio tanto gosta e que, ao menos à primeira vista - ou, melhor dizendo, à primeira escutatória -, você também deu sinais de que vai apreciar muito.
A gente toca flauta assoprando um buraquinho que fica perto da nossa boca. Parece fácil, mas seu tio aqui tem um bocado de dificuldade nessa aparentemente simples tarefa. Pois é ali onde a música nasce, onde os sons se misturam, onde os timbres se diferenciam... onde, sobretudo, a mágica acontece.
O primeiro registro que se tem de um objeto semelhante ao que conhecemos como flauta hoje data de mais de 30 mil anos atrás. Não é incrível que um instrumento tão antigo ainda continue a nos emocionar? No começo, é claro, as flautas eram feitas de ossos ou de madeira. Só no século XIX que ela ganhou essa configuração de hoje, já em metal, e repleta de buraquinhos e chaves.
Hoje, há vários tipos de flautas (a que seu tio toca mais é a transversal). Tenho guardada também uma flauta doce, mas sobre ela te conto mais quando puder te apresentar o som lindo que ela tem. Pelo nome, você já deve imaginar que é algo muito suave e gostoso.
Cada flauta, Joaquim, tem uma personalidade. Como a gente: algumas alcançam lugares mais altos, outras soam melhores no começo da escada, brilhando escondido. Algumas são utilizadas para evocar sentimentos mais introspectivos, outras são utilizadas para embalar sambas e outros estilos cujo lugar preferido é a festa da celebração.
Espero que você goste de todos os tipos de uso! E, quem sabe, que queira aprender um dia! Até lá, espero poder ser um ótimo incentivador, te mostrando tudo e mais um pouco.
Ah, sobre os grandes flautistas, quero te apresentar o Patápio Silva, o Carrasqueira, o Altamiro Carrilho e o grande Pixingui. Também quero te apresentar o James Galway e o xará do seu pai, o Gabriel Fauré (esse é um dos meus favoritos!). Você vai amar conhecê-los!
Até a data dessa carta, seu tio contou com a ajuda direta e a instrução de algumas pessoas que ainda hoje o fazem sentir o que só a flauta parece ser capaz de realizar. Esdras Peracchi, Daniela Bernarda, Ronise Simões e Leonardo Faria foram e são mestres do seu tio, a quem ele agradece sempre pelo exemplo.
Colegas de aprendizado também são ótimos professores, você sabia? Quando me junto a alguns amigos para tocar flauta, vejo que saio de cada encontro muito melhor do que entrei. A cada apresentação, a cada término de semestre, vejo que sei tocar um pouquinho melhor do que antes. E o melhor: essa evolução acontece sempre ao lado de quem a gente gosta, fazendo o que a gente gosta e, mais importante que tudo, estimulando nosso cérebro com coisa boa, com história, abstração e conhecimento.
Por isso, Joaquim, é preciso muito estudo - como qualquer coisa na vida, não é? Dizem que até quem sabe muito, muito, mas muito mesmo, precisa continuar a aprender muito, mas muito, mas muito mesmo, pois todo mestre tem de ser um eterno aprendiz, seja onde for. E se esse texto tem um objetivo, é esse: comece a estudar algo que goste e nunca mais pare. Nem que seja um pouquinho por dia. Parece desgastante, mas é o contrário: ter a certeza de que não sabemos nada é revigorante!
Hoje, 13 de julho, seu tio se apresenta junto à Orquestra de Flautas, na Igreja São Domingos (é linda, você também vai gostar muito!). Talvez, na próxima apresentação do grupo, você já possa nos assistir pessoalmente. Enquanto esse dia não chega, continue fazendo brotar a sementinha da curiosidade, olhando, tocando, ouvindo e experimentando. Que a flauta possa te acompanhar em muitas etapas de sua vida - se não pelo estudo, pelo prazer da escuta e da contemplação.
A única coisa que a música nos pede, meu sobrinho, é uma escuta atenta e um coração aberto. E é justamente isso o que te desejo. Nessa carta... e sempre.
Com muito carinho - e um sopro de música,