Um urubu se apaixonou por uma asa delta
E se o amor, ao contrário do que pregam, fosse apenas míope e não cego? Haveria menos relacionamentos? Como se manifestariam os deslumbres irracionais? Teriam eles uma pitada de autocrítica? E se o amor fosse astigmata? Veria bem apenas o que está longe ou também teria dificuldades para visualizar o que está perto?
Tá legal, "o amor é cego" pode ser só uma expressão - como tantas outras - criada para sintetizar algo que não tem explicação ou razão de ser. No campo das ideias reais, o nobre sentimento que povoa corações e mentes mundo afora pode ser tantas coisas, ter tantos significados...
Seria, tal expressão, rival de uma outra semelhante que diz que "o que os olhos não veem, o coração não sente?". Pois se o amor é cego, os olhos não precisam ver para o que coração sinta, certo? Talvez. Só sei que nessa rinha de provérbios, ganha quem faz deles exercícios de abstração. Ou de simplificação. Afinal, são provérbios, não teorias científicas.
Gosto de frases que desafiam a lógica como uma que conheci recentemente: "passarinho que acompanha morcego acorda de cabeça pra baixo". Genial! Muito melhor do que dizer que somos, às vezes, reflexos das pessoas que seguimos, admiramos ou torcemos contra, né? Ponto para o senso comum.
(...)
Ao entrar em um carro de aplicativo, a passageira logo pediu para o motorista "ligar o ar" - sem se dar conta de que ele não era brasileiro. O homem, de pronto, apontou as janelas abertas como se aquela fosse a melhor resposta. E era!
Contextos, visões distintas, geografia... palavras sempre serão abismos que separam lógicas, que colocam distância entre a realidade e a aparência.
Talvez o amor não seja cego. Ele apenas pode ter esquecido os seus óculos em casa.
Prosa de fim de post:
1 - O título do texto foi retirado de uma música do grupo "Premeditando o Breque".