Profundamente superficial
No fundo, a gente sabe: não sabemos nada. Mas a gente vai vivendo achando que sabe, dando pitacos sobre tudo, sobretudo sobre aquilo que não diz nada. Tá legal, às vezes rola uma pequena dose de humildade e a gente mantém o silêncio. Mas não é a regra.
A real é que o pouco de conhecimento que dominamos é incipiente, dá pra medir no fundo de um garrafa. Melhor: no fundo de um copinho que usamos para tomar remédio. Correndo no canto das ruas, em chuvas torrenciais de inteligência, há uma imensidão de líquidos a jorrar sem que exista, ao nosso alcance, vasilhames suficientes ou algo que nos proteja. Ou que nos salve. Passamos ilesos e secos. Viramos um cano furado.
Dentro de nós, todavia, há um desejo absolutamente feroz de falar sobre tudo. Que estranho! No carrossel dos espaços virtuais, vez ou outra circulam vídeos com opiniões que saltam das telas como um sapo à procura de abrigo. Mas tudo bem, quem nessas ondas navega não pode reclamar do enjoo, afinal, é isso que o balanço das redes pode gerar.
O problema é que nesse oceano de palavras às vezes a gente esquece que opinião também tem peso. E um quilo de penas é a mesma coisa que um quilo de chumbo. Equilíbrio confuso, como se o eco de um estrondo fosse um chamado para o silêncio.
Viralizar, aliás, é um termo novo, ainda não está no dicionário. Mas já nos ensina que distribuir qualquer coisa como um vírus não pode ser a saída. Nem a entrada. Pois no meio disso tudo, estamos nós.
(...)