Três letras apenas
Mãe,
Hoje é seu aniversário e sempre que esse dia especial chega eu não sei muito bem se compro um presente, se faço alguma surpresa, se procuro uma roupa que a senhora vai gostar de usar, se pergunto ou não se a senhora está precisando de algo (mesmo sabendo que vai dizer que não precisa de nada, que a nossa presença já é um presente), se faço um café da manhã ou um almoço especial ou se faço tudo isso de uma vez.
Nem sempre saio satisfeito. Fico achando que devia ter feito outra coisa, que devia ter feito mais. Tudo bem, já ouvi de amigos que isso é coisa de filho. E filho nunca consegue retribuir o carinho e o cuidado de uma mãe. A gente até tenta, mas falha todas as vezes.
Dizem que tenho facilidade com as palavras, mas se isso for verdade, tenho que dizer que só com as palavras escritas mesmo. Quando preciso falar algumas das coisas que escrevo, eu empaco e não digo nem metade. Mais uma vez, saio insatisfeito, mas ciente dessa minha limitação. Tudo bem, já ouvi de outras pessoas que isso é normal, que a gente nunca vai conseguir dizer pra nossa mãe o quanto a amamos.
Por isso, resolvi escolher pequenas poesias que tanto gosto - e outros trechos de grandes escritores - para manifestar a minha gratidão nesse seu aniversário. Eles, assim como eu, também não conseguem retribuir à altura o carinho que receberam de suas mães, mas, diferente de mim, chegaram mais perto.
O Carlos Drummond de Andrade mesmo dizia que "mãe, na sua graça, é eternidade".
A Cora Coralina dizia que "a humanidade se renova no teu ventre".
O Mia Couto dizia que "na barriga da mãe, não se tece apenas um outro corpo. Fabrica-se a alma".
A Alice Ruiz dizia que "depois que um corpo comporta outro corpo, nenhum coração suporta o pouco".
Mas o velhinho Mario Quintana é quem mais se aproximou do que nós, filhos, sentimos:
São três letras apenas,
As desse nome bendito:
Três letrinhas, nada mais…
E nelas cabe o infinito
E palavra tão pequena
Confessam mesmo os ateus
És do tamanho do céu
E apenas menor do que Deus!"