O hábito, o cabelo e o trem
Nada precisa tanto de reforma como os hábitos dos outros, diria de maneira humorada o escritor Mark Twain. Não fosse apenas uma frase despretensiosa de um escritor sarcástico, a afirmação seria um belo resumo das relações humanas. Geraria, talvez, teses acadêmicas e até discussões acaloradas em mesas de bar. Raul Seixas, o compositor incisivo e livre, também lembrava em uma de suas canções: "estou sempre pensando em aparar o cabelo de alguém e sempre tentando mudar a direção do trem".
(...)
(Tá legal, não é difícil entender. É que é bem mais fácil olhar o outro do que a nós mesmos. Mas, hey! Nosso umbigo está bem mais perto que o umbigo do outro!)
(...)
Tenho esse defeito. Costumo olhar para as pessoas esperando que elas tomem atitudes como eu, que elas ofereçam o mesmo olhar que o meu às coisas, que elas sejam... exatamente... como eu. Que bobagem! Nem mesmo eu sei o que fazer com o meu cabelo (ou com a falta dele). Que dirá o cabelo do outro!
Melhor do que olhar o avanço do amiguinho ao lado é presenciar a evolução da própria trajetória. Melhor do que calcular a rota do outro é caminhar o nosso próprio caminho. Melhor do que esperar o carinho do outro é fazer um carinho em si. Nada precisa tanto de reforma como os nossos próprios hábitos.
(...)
Dia desses, fiquei interpelando mentalmente uma pessoa, tentando imaginar o motivo pelo qual ela tomou uma atitude diferente da que eu tomaria. Por horas, tracei planos diferentes, imaginei desfechos distintos e, por fim, concluí que não era possível compreendê-la integralmente.
(Minutos depois e eu aprendi: estava tentando mudar a direção do trem).
E fui atropelado! No fim do túnel, havia escuridão.
abraços solidários
19 mai. 24
