O apego e seu prefixo
(Legal. Mas e como saber o que trazer ou não em nós? Como imaginar que o que trazemos conosco não deve continuar na próxima curva? Eu sei, eu sei, eu sei... não sairemos desse texto com respostas, né? Melhor desapegar!)
Quem tem um pássaro no dedo, dizia o escritor Rubem Alves, sabe que a qualquer momento ele pode voar. O poeta Fernando Pessoa lembrava que renunciar era libertar-se de algo. "Não querer é poder", reforçava.
(...)
Tenho percebido que momentos de profunda alegria não duram mais do que alguns minutos. Sempre que colocamos para fora parte do nosso entusiasmo, por obrigação somos impelidos a abafá-lo na sequência; torná-lo imóvel novamente, sem voz. Não para que ele suma do nosso álbum de bons momentos, mas ao contrário: para que, definitivamente, nasça como fotografia irrepetível. Vida real, eu sei.
Sei lá, tem horas que acho que é preciso vencer o jogo e esquecê-lo logo em seguida. Tem horas que me apego insistentemente a pessoas, coisas e causas e me vejo rememorando êxitos comuns. Na real, não é nada fácil escolher o que levar e o que deixar guardado dentro da gaveta. Ainda mais se dentro dessas possibilidades haver a opção "descartar" - que, aliás, tem tudo a ver com esse jogo de escolhas cruel que é o nosso dia a dia. O apego e seu prefixo.
Não faz mal, né? Quem observa a vida com a vagareza que ela merece sabe que isso é pra lá de bom! O não trazer em si, às vezes, é um peso a menos. Encontrar-se perdido. Perder-se encontrando.
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Mas, então: esquecer de lembrar ou lembrar de esquecer? Talvez nenhuma das alternativas. Ou talvez as duas juntas. Melhor não escolher agora. Já faz um tempo que aprendi que na vida tudo é transitório e permanente (inclusive essa afirmação).
Nem sempre é necessário ser lembrado.
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