Há de haver

no curso da vida
nunca há só a ida
há o ver, o verde
a vinda

pois se há o mistério,
há de haver o óbvio
o olhar lançado de pronto 
o beijo sóbrio

a areia sem o mar
de certo, é um deserto
pois se não há o amor
não há afeto

não há, portanto, uma regra
uma linha, um traçado, uma régua

pois se há o trançado
há de haver a liberdade
o cabelo solto ao vento 
a perenidade

sempre importa a cor do gato
ainda que ela contrarie o ditado
pois padrões, aliás,
são coisas do passado

a cor, de cor, decora
os lábios, a lábia, por ora
o preto, de perto, encanta
o canto, o manto, a planta

pois se há a aventura
há de haver a solidão
a capa guardada no armário
o medo do chão

há o olhar atento e doce 
há o salgado doce do mar
há o voo, o pouso, a asa
há o fogo, a água e o ar

saúdo sempre a saúde 
saudando sempre a saudade
sem elas tudo é falta
tudo é fátuo, inverdade

pois se há vida
há de haver tudo
e nele haverá de haver sempre
o mundo


(...)

Texto escrito para a minha amiga, Thaís Helena,
em virtude do seu aniversário de 30 anos.
 Julho de 2022