Há de haver
no curso da vida
nunca há só a ida
há o ver, o verde
a vinda
pois se há o mistério,
há de haver o óbvio
o olhar lançado de pronto
o beijo sóbrio
a areia sem o mar
de certo, é um deserto
pois se não há o amor
não há afeto
não há, portanto, uma regra
uma linha, um traçado, uma régua
pois se há o trançado
há de haver a liberdade
o cabelo solto ao vento
a perenidade
sempre importa a cor do gato
ainda que ela contrarie o ditado
pois padrões, aliás,
são coisas do passado
a cor, de cor, decora
os lábios, a lábia, por ora
o preto, de perto, encanta
o canto, o manto, a planta
pois se há a aventura
há de haver a solidão
a capa guardada no armário
o medo do chão
há o olhar atento e doce
há o salgado doce do mar
há o voo, o pouso, a asa
há o fogo, a água e o ar
saúdo sempre a saúde
saudando sempre a saudade
sem elas tudo é falta
tudo é fátuo, inverdade
pois se há vida
há de haver tudo
e nele haverá de haver sempre
o mundo