Ao tempo desperdiçado

desculpe, não era minha intenção
o tempo escapou pelas mãos
e eu, sem saber o que fazer
apenas o deixei ir
como um andarilho
sem a linha do destino 

desculpe, não era minha intenção
não percebi que o perderia
mas se soubesse, é claro,
não o deixaria em vão
ao léu, ao sol, ao chão 

é que nem sempre saberemos
o que vai nos acontecer
será esse o mistério da vida:
saber ou não saber?
o acaso vai mesmo nos proteger? 

sei que poderia vivê-lo sem medo
(eu sei, até mesmo em segredo!)
mas escolhi o contrário caminho
e segui sozinho outro enredo 

queria ter tido a chance de experimentá-lo
de ter podido vivenciá-lo lá fora
trabalhado sem exageros
ter apresentado minha vaidade na medida certa
como quem escolhe o tamanho da colher
ao colocar pó de café no filtro 

errei a mão, deixei-o de lado
se eu soubesse disso, teria tentado 

talvez uma regra mais dura
talvez um relógio diferente
um café mais fraco
(ou mais quente!)

talvez vê-lo passando à minha frente

desculpe, não era minha intenção
prometo ficar mais atento na próxima ocasião. 


                                                                                                                        29 fev. 24