Aves, pedras, rãs e águas

Pronto! Arrebentei as grades que envolviam o campo da minha imaginação e retirei as correntes que prendiam o meu livre pensar. Agora deixo meu raciocínio correr pelas linhas do dia, provocando sensações que antes não me permitia sentir. Perambulando pelas confusões do caminho, ando lado a lado com a liberdade, como quem sai de casa sem hora pra voltar.

Penso nos momentos em que estivemos juntos e, sobretudo, nos momentos em que estamos separados. Gosto de relembrar os instantes em que ficamos em silêncio. Ainda mais dos olhares que trocamos sem nem mesmo estarmos juntos. Paradoxos, eu sei. Nem sempre a realidade é capaz de nos oferecer o que precisamos. Ou o que queremos. Um pouquinho de poesia e sonho não faz mal a ninguém, né?

Muito melhor deixar as coisas correrem do que prendê-las em uma corda que quase sempre se afrouxa sozinho. Afinal, enclausurar um pensamento não é tarefa fácil! Quando menos se espera, lá está ele, no almoço, no jantar e até quando dormimos (não falávamos de sonho? Pois então).

Decidi que agora minhas vontades possuem independência. E ainda que elas não possam ser realizadas, elas vão, sim, poder se lançar pelas ruas da aposta, pelas vias do acerto e em qualquer lugar que elas quiserem nascer. São livres dentro de minha cabeça; são realizáveis dentro dos meus anseios.

Por isso, continuarei acreditando nos instantes que nos aproximam e, também, nas pausas que os desencontros nos exigem. Pode até ser que esses desejos sejam mútuos, semelhantes. Pode até ser que do outro lado da linha esteja uma imaginação igual a minha, ora reclusa, ora autônoma.

Eu sei, é impossível ter algumas coisas, mas é possível ter todas imaginando.

Penso, logo existo. E finjo ter em mim todos os sonhos do mundo!

(...)

"Quando as aves falam com as pedras e as rãs com as águas
- é de poesia que estão falando."

Manoel de Barros 

abraços!
17. out. 23