As viagens são os viajantes
A relação entre as palavras vida e viagem não está somente na letra que as originam. Está, sobretudo, na maneira que ambas tratam a questão do caminho. Essa união significativa pode nos ajudar a entender os ciclos, as passagens e o tempo. Não se trata de uma regra, mas de um atalho.
Não há como dialogar com as fases sem entendê-las como períodos finitos. As estações, que nos oferecem a discrepância do clima, os estágios, que nos propiciam diagnósticos de uma possível evolução e a idade das coisas, que possibilita a compreensão de que somos mortais, são exemplos práticos de vida e de viagem.
Por isso, é importante estar alerta a cada modificação que por ventura possa se ter conhecimento. Olhar com calma o cair das pétalas e, ao mesmo, a remodelação dos ventos. Trocar os óculos velhos por olhares novos e entusiasmados, pois as viagens são os viajantes. Sempre foi assim.
Quando a gente se coloca para dentro, procurando certa introspecção, estamos, na verdade, viajando. No íntimo de nossos sentimentos, estão sempre reunidas também todas as nossas angústias. É necessário calma para velejar nesse mar confuso, repleto de ondas e desafios, mas, sobretudo, é exigido da gente um bocado de coragem para enfrentar tamanho dilema. Para conhecer a si mesmo, aliás - como os gregos recomendavam - é preciso mergulhar.
Um bom viajante, às vezes, não quer chegar a lugar nenhum. Viajar, como disse o poeta Quintana, é apenas trocar a roupa da alma.
(...)
Deixa-me seguir para o mar
(Mário Quintana)
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| Foto: Gustavo Henrique |
