Silenciado
Reza a lenda que durante uma partida de futebol um famoso locutor de rádio, ao anunciar a temperatura que estava sentindo no estádio, teria proferido a seguinte frase:
"Caro, ouvinte, aqui está um calor en-sur-de-ce-dor!".
Ok, nem preciso explicar que se trata de uma junção de palavras errantes... mas você há de convir que também se trata de uma expressão absolutamente aceitável, afinal, há dias em que o nosso astro-rei, de fato, nos provoca delírios (ensurdecedores, para continuar no comentário do profissional da voz).
Tudo bem, segue o jogo. Essa partida está só no início. Ainda teremos calores ensurdecedores piores do que esse que estamos ouvindo, sentindo e vendo. Há tempo, mas não muito - e nós ainda não aprendemos a lição: estamos perdendo - e feio - esse jogo contra o planeta.
Já que falei de sensações que nos fazem perder a audição, trago aqui um questionamento: há silêncios ensurdecedores? Momentos nos quais não ouvimos nada ainda que ouçamos tudo? Instantes em que percebemos um certo silenciamento que nos coloca à margem, ainda que no meio de todos?
Nah, papo filosófico demais, né? Questões calorosas à beça para uma semana um tanto quanto estranha e, ao mesmo tempo, surpreendente.
O quê? Para você, segue tudo igual, como antes?
Tá certo, acabei me empolgando ao imaginar que o nosso mundo pode ser, às vezes, um universo plural, em que todos sabem o que estamos sentindo ou fazendo, num jogo de trocas, de sensibilidade, de uma clima ameno, respirável.
Ao contrário, né? A real é que as pessoas estão cada vez mais distantes umas das outras, buscando incessantemente o esconderijo das redes, longe da brisa leve, da transparência. Imersos em pensamentos intrusivos, mergulhados em imaginações desnecessárias.
Talvez por isso tudo esteja tão... abstrato, subjetivo... digital demais para um mundo analógico, né?
26. set. 23
