A crônica do até logo
Eu vi. A poeira contida nos móveis do quarto onde trabalho saltou abruptamente - mas de maneira sincronizada - assim que abri as janelas. A brisa, nem um tanto arrasadora, soprou para lugar nenhum o pó que veio sabe-se lá de onde. Foi mágico!
Por um instante, pensei que a poeira estivesse sobrevoando aquela mesa branca dançando ao som de Gilberto Gil em uma canção que falava sobre o repouso. No mundo lúdico que me cerca, foi isso mesmo que aconteceu.
Tá legal, não há ludicidade na sujeira. O que rolou mesmo foi o despertar do pó depois de uma longa noite de descanso - e de dias sem limpeza. A luz do nosso astro-rei entrecortava as grades de uma janela velha iluminando a inusitada dança, como se quisesse me mostrar que havia um trabalho a ser feito.
Entendi o sinal. E para fins de estímulo e simbólica companhia - assim como se pedia ao locutor do rádio antigamente - solicitei ao nobre robozinho do mundo moderno que tocasse especificamente uma música.
Ok! - e disse o nome da gigante da tecnologia. Tocar "Tempo Rei", de Gilberto Gil.
Pronto. "Tudo agora mesmo podia estar por um segundo."
Antes, havia acordado com a sensação de que devia, a todo custo, acelerar o tempo. Resolvendo pendências de uma vez por todas, refazendo laços rapidamente, procurando respostas como quem procura um elefante no quintal.
Errei, fui tolo - de novo, outra vez. Já devia saber - há tempos - que com ele, não se mexe. A ele, aliás, toda a paciência do mundo! E o mundo inteiro, se puder.
Decidi ouvir a música com atenção - eis a melhor decisão que tomei no dia! Pelas palavras do poeta luminoso, aprendi, enfim, que só o tempo pode nos ensinar sobre ele próprio.
Esperei. Ouvi de novo. E decidi. Não os rumos de minha vida, mas o que faria na tarde do meu presente dia.
Andei de bicicleta, ouvi os pássaros, o barulho - e o silêncio da natureza.
E pela primeira vez, eu ouvi o tempo. Sem entendê-lo, mas sentindo-o.
abraços
e até qualquer dia!