Abril se fechou
Gosto dos ciclos. E do final deles. Mais ainda do que eles ilustram. Dos símbolos, das hipóteses, das suposições que eles propiciam. Gosto ainda mais do que eles nos ensinam (até do que não ensinam, como uma prova sem respostas ou um caminho sem início, fim ou meio). Um dia com vários finais. Um final com vários dias.
Se "nada é permanente, exceto a mudança", tenho razão de condecorar os ciclos. Sem eles, estaríamos presos em um dia eterno, só de sol ou só de noite, atordoados, longe dos ponteiros e apontando o sul como se fosse o norte. Um barco sem rumo e um rumo sem barco.
Se os pés não se despedem do trampolim, há muito o que se lamentar. Também pudera: trampolins não foram feitos para o repouso; ao contrário, foram feitos para impulsionamentos. Recomeços dão gás para outras decolagens - ou ar para novos mergulhos. Tanto faz.
Tá bom, usar e abusar do tempo, da constância, da comodidade não é lá um pecado tão grave. Desrespeitar os ciclos também não. Às vezes, o que a gente quer é só um pouco de paz, né? Na mesma rede, no mesmo banco, na mesma cidade, na mesma cama. Sem grandes surpresas, nem descobertas. Um país interno devidamente explorado, longe das novidades.
Flores, estações, épocas. Seriam elas cobaias de algo maior que testa, diariamente, as nossas percepções? Que observa, minuciosamente, o que elas geram em nós, nos outros, nos espaços? Tanto faz também.
Nossas vidas odeiam perguntas. Por isso é que elas nunca têm as respostas.
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| gosto quando a lua dá as caras de dia é como se a poetisa viesse antes da poesia. |
