Livros e livres
Pálido Ponto Azul, de Carl Sagan. Esse livro mudou a minha vida. Ou melhor: me fez compreender como ela é fabulosa! Ou melhor: me fez entendê-la como algo finito, breve, mas deslumbrante. Melhor: me fez ter a certeza de que, para o universo, ela não vale muito, mas que, para nós, ela pode valer tudo. Ou melhor: que a vida sem a ciência pode não ser nada. Melhor: que uma vida sem questionamentos não nos leva adiante, que "temos a responsabilidade de sermos mais amáveis uns com os outros". E mais: que somos feitos de poeira de estrelas. Melhor ainda: que o céu nunca foi o limite. E por fim: que ele é só o começo.
"Punidos Venceremos", do jornalista e publicitário Fraga, me surpreendeu muito também. Texto finíssimo. Humor de primeira! Quero sempre me lembrar da definição que Fraga deu ao medo: "alma em estado de coma, o ruído sem ondas sonoras". Que genial! E continua: "Os tempos são de medo. Mas o medo não tem hora. Agora, por exemplo, está faltando um minuto para o próximo medo [...] Confessar o medo? Só por medo." No mesmo texto, finaliza: "sou um simples mortal. E quem quiser provar o contrário vai ter que passar por cima do meu cadáver".
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Há livros que nos mudam para sempre. Outros, passam batido - mas até esses nos mudam para sempre, né? Sempre saímos diferentes depois de uma leitura. Ou iguais, como sempre fomos. Página por página, dentro de nós, transformações acontecem e são capazes de mudar o nosso humor. Ou de criá-los, às vezes. Assim como a metáfora do rio que se modifica sempre que alguém passa por ele.
Essa sensação dinâmica, metamórfica e sempre original é, por mais paradoxal que isso possa parecer, uma surpresa planejada. Ler é desentender, ainda que o contrário possa ser a regra inicial. Abrir um livro é despir-se. É fingir e acreditar que não sabemos nada.
Eis o fato: não sabemos nada mesmo! E isso é tudo! Ler é ver a ignorância de perto e querer chutá-la pra longe. Ao mesmo tempo, é entendê-la como uma companheira fiel, alguém que devemos ter sempre respeito.
Quero a minha por perto, para me incentivar; e quero-a longe, distante, para que eu sempre procure por ela.
