Observando os deuses

Vejo agora, às 06h, cinco deuses lado a lado. No meio deles, a rainha dos poetas, deusa das mensagens românticas. No céu, estão todos alinhados, próximos, encostados. Como num coral de músicos. Como numa fila indiana.

A deusa do amor e da beleza, nitidamente a mais brilhante do céu - tão grande, tão intensa - parece não querer papo com o deus da guerra. Faz sentido. Não há nada de belo em um conflito. Amor e guerra são astros distantes, incomunicáveis, antagônicos.

O deus da guerra tem metade do nosso tamanho - o que nos faz imaginar que nossa outra metade é feita de paz, certo? Ainda bem. Vermelhos e azuis precisam coexistir. Seria, esse Deus, nosso futuro ou nosso passado? Ou os dois? Se há, no espaço interestelar, um deus da guerra, onde estaria o da paz? Se existir será a primeira planeta, no feminino! A planeta Harmonia! Quem sabe um dia.

O rei dos deuses, pai de todos, o maior que há, também está por aqui. Dono de 14 servas, quase todas praticamente invisíveis. Mesmo sendo rei, dizem não ser o mais belo. Reis sempre são feios. Ou melhor: sempre estão em busca de coisas grandiloquentes, distantes de si. 

Perto desse monarca, há o verdadeiro senhor dos anéis, seguro, imponente, cobiçado, tal qual uma aliança dourada e valiosa que simboliza a união sem emendas. O deus do tempo, dono de um frio intenso. Curto e grosso. Como alguns seres belos, gigantescos. Como alguns anéis.

Lá longe, como é de praxe, está o menor dos deuses. De praxe porque nem sempre se enxergam os pequenos, os discretos e os distraídos. Seu giro é lento, muito lento, quase não dá pra sentir daqui. Falo do mensageiro dos deuses. 

Aliás, se notícia ruim chega rápido, notícia boa demora mesmo a chegar. 

Eu sigo daqui. Esperando. Observando os deuses. Deixando que eles exerçam sobre mim aquilo que a Lua exerce sobre as marés. Dando sentido à inércia. Ressignificando o fascínio que temos - e sempre teremos - pelo mistério.

O Olimpo: batalha com os gigantes. Francisco Bayeu e Subías (1764)
O Olimpo: batalha com os gigantes. Francisco Bayeu e Subías (1764)

(...)

O FRENESI HABITUAL
30 mar. 15

lentes macro, lentes micro
olho aqui, olho cá
do alto tudo é insignificante
tudo parece escapar
o frenesi habitual
embaça feito café quente
do alto se pode visualizar
nossa incrível curva descendente

                                                                                                                                                  abraços!