Observando os deuses
A deusa do amor e da beleza, nitidamente a mais brilhante do céu - tão grande, tão intensa - parece não querer papo com o deus da guerra. Faz sentido. Não há nada de belo em um conflito. Amor e guerra são astros distantes, incomunicáveis, antagônicos.
O deus da guerra tem metade do nosso tamanho - o que nos faz imaginar que nossa outra metade é feita de paz, certo? Ainda bem. Vermelhos e azuis precisam coexistir. Seria, esse Deus, nosso futuro ou nosso passado? Ou os dois? Se há, no espaço interestelar, um deus da guerra, onde estaria o da paz? Se existir será a primeira planeta, no feminino! A planeta Harmonia! Quem sabe um dia.
O rei dos deuses, pai de todos, o maior que há, também está por aqui. Dono de 14 servas, quase todas praticamente invisíveis. Mesmo sendo rei, dizem não ser o mais belo. Reis sempre são feios. Ou melhor: sempre estão em busca de coisas grandiloquentes, distantes de si.
Perto desse monarca, há o verdadeiro senhor dos anéis, seguro, imponente, cobiçado, tal qual uma aliança dourada e valiosa que simboliza a união sem emendas. O deus do tempo, dono de um frio intenso. Curto e grosso. Como alguns seres belos, gigantescos. Como alguns anéis.
Lá longe, como é de praxe, está o menor dos deuses. De praxe porque nem sempre se enxergam os pequenos, os discretos e os distraídos. Seu giro é lento, muito lento, quase não dá pra sentir daqui. Falo do mensageiro dos deuses.
Aliás, se notícia ruim chega rápido, notícia boa demora mesmo a chegar.
Eu sigo daqui. Esperando. Observando os deuses. Deixando que eles exerçam sobre mim aquilo que a Lua exerce sobre as marés. Dando sentido à inércia. Ressignificando o fascínio que temos - e sempre teremos - pelo mistério.
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| O Olimpo: batalha com os gigantes. Francisco Bayeu e Subías (1764) |
(...)
abraços!
