Posts postais

Sempre achei a eternidade um lance muito especial – e curioso. Talvez pela ideia um tanto quanto dissonante de que ela tem um fim – ou de que ela começa no fim, nessa ponte que une o nada ao eterno.

(Eu sei, eu sei, eu sei... não dá muito pra compreender essa lógica).

Lógica? Definitivamente, não estamos falando disso. Teria deixado algo além de seus ossos o primeiro ser humano do Planeta Terra? E, se deixou, a eternidade tratou de apagar?


(...)

O papa emérito Bento XVI só escreve a lápis. Será o predecessor de Francisco um defensor da eternidade escrita com grafite? Woody Allen, o cineasta, já disse que podem jogar os seus filmes no mar quando ele aqui não mais estiver. Seria o diretor de cinema avesso à posteridade? Ao legado?

(...)

Há quatro anos, ganhei de uma amiga que morava na França, a minha amada Thaís Helena, alguns cartões com pinturas de Van Gogh. No verso, frases carinhosas escritas em francês. Fosse apenas isso, já seria um presente e tanto! Além de tamanho mimo, recebi também algumas fotos – clicadas por ela – de cenários absolutamente marcantes na história do pintor.

Seriam, tais locações – um café e um jardim - lugares eternos? Talvez. Mas sei que o tempo - esse ser cruel - um dia tratará de destruir as pinturas e a arquitetura do mundo! Os cafés e os jardins. Depois dali, apenas o nada... o silêncio.

Eu sei, eu sei, eu sei... não é lá uma boa ficar nessa de pensar a ideia do fim. Nem a do começo. Nosso tempo é agora, nesse segundo que acabou de passar debaixo dos nossos olhos nos enganando como se fosse o presente.

(...)

Dizem os astrônomos que Marte guarda consigo características bem semelhantes às do nosso planeta. Seria o planeta vermelho o futuro do planeta azul? Teria existido por lá algum tipo de vida? Um papa emérito? Um cineasta?


Ainda me lembro de Van Gogh. Ainda mais de suas pinturas. Mas nunca o vi, nem nunca toquei em uma de suas telas. As fotos que recebi de minha amiga simulavam, com uma certa veracidade, o olhar que o louco pintor teria tido ao eternizar aqueles pontos. Seria, Van Gogh, um pintor eterno? E quando tudo for destruído, continuará sendo? Hora de fazer backups em outras galáxias ou elas também não resistirão?

Papo extenso, né? Só queria mesmo falar dos cartões. E de como eles invocam em mim essa sensação de pertencimento ao tempo comum. E de como os guardo com carinho, lembrando da amiga que um dia me fez acreditar que o para sempre era uma ideia até que interessante. Sabe como é, papo vai, papo vem... tudo se alonga. Expande, contrai... como o Universo. Eternamente em desconstrução.

(...)

abril 01, 2022