Sobre 1995
Basta uma rápida pesquisa nos famosos gurus virtuais para termos certeza que 1995 foi um ano xoxo. Situado entre períodos marcantes da história, mas sem grandes novidades, o ano certamente não entraria na lista dos inesquecíveis.
Obviamente, grandes feitos foram conquistados nesse ano e alguns fatos são, sim, considerados importantes. Nossa memória, entretanto, tem dificuldades para se lembrar.
Seu antecessor, 1994, foi o ano do tetra e da última corrida de Ayrton Senna. 1996, o ano seguinte, eternizou o misterioso caso do ET de Varginha e da morte precoce dos Mamonas Assassinas.
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Ah, 1995 trouxe, pelo menos para mim, o disco Simples de Coração, dos Engenheiros do Hawaii. Um de meus favoritos.
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Gosto de datas. E gosto de datas redondas. Tenho comigo que nesse domingo que já virou segunda completei um dos quatro grandes ciclos de minha vida. Resta-me pouco, resta-me muito.
Nasci em 1995. Na manhã do dia 24 de fevereiro. De lá até aqui, passaram-se 25 anos. Nah, se a história nos ouvir dizer isso, ela dá risada! 25 anos pra ela é um dia! Mas pra nós é uma soma interessante, né? Não temos todo o tempo do mundo.
Mas e o agora, a quem agora pertence? Serei refém de minhas memórias ou de minhas vontades? Quem virá para me socorrer quando faltarem respostas? Meu intangível passado ou meu futuro metafórico? Freios e aceleradores. Tempo e ritmo.
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Quase no mesmo dia, comprei uma vitrola, assinei um plano de música por streaming, comprei um livro e um leitor de e-book. Nasci em 2020. Na madrugada do dia 24 de fevereiro.
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Meus 25 anos formam o que encaro como um treino. Um bom teste. Ter escolhido esse caminho que persigo não é algo pensado estrategicamente. É, como acredito, uma trajetória trilhada pelo acaso, esse singelo suspiro temporário.
Nunca achei que a perfeição fosse uma meta, por isso, nesses inexatos 9 mil dias, sempre fui parceiro dos meus erros e das minhas angústias. Ao lado de certezas definitivas, caminharam comigo centenas de dúvidas cambaleantes.
Gosto muito do carinho que conquistei das pessoas. De todas elas, continuo apenas pedindo a mesma compreensão e paciência de sempre.
Sei pouco de Oliver Cromwell, o político inglês. Mas gosto de uma de suas frases, dita a um artista das telas em um momento claro de carinho para com a posteridade:
"Pinta-me como sou. Se omitires as cicatrizes e as rugas, não te pagarei um tostão".
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| Foto: André Luiz |
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POÉTICA
Vinícius de Moraes
de manhã escureço
de dia tardo
de tarde anoiteço
de noite ardo.
a oeste a morte
contra quem vivo
do sul cativo
o este é meu norte.
outros que contem
passo por passo:
eu morro ontem
nasço amanhã
ando onde há espaço:
— Meu tempo é quando."
perdoem o amadorismo
a falta de técnica
o romantismo
assim como Belchior
infelizmente não sou
à prova de som
nem de amor
sou latino americano
tenho 25 anos
ignoro a perfeição
todas as coisas
que sinto
ah, você sabe,
eu também sei
vem lá do coração.
Fevereiro de 2020
